"Um ambiente conformista não permite novas idéias. Assim, o gestor deverá estimular um ambiente receptivo ao debate e à inovação”.

A partir da leitura do livro Gestão Administrativa e Financeira de Projetos Sociais (SOUZA, 2001) e de uma das inferências da autora (anteriormente citada) realizamos discussões e releituras. Uma delas foi
do texto Inteligências Múltiplas[1], visto na disciplina NCO03. Nele, Gardner identificou as inteligências linguística, lógico-matemática, espacial, musical, cinestésica, interpessoal e intrapessoal. Postula que essas competências intelectuais são relativamente independentes, tem sua origem e limites genéticos próprios e substratos neuroanatômicos específicos e dispõem de processos cognitivos próprios. Segundo ele, os seres humanos dispõem de graus variados de cada uma das inteligências e maneiras diferentes com que elas se combinam e organizam e se utilizam dessas capacidades intelectuais para resolver problemas e criar produtos. Gardner ressalta que, embora estas inteligências sejam, até certo ponto, independentes uma das outras, elas raramente funcionam isoladamente. Embora algumas ocupações exemplifiquem uma inteligência, na maioria dos casos as ocupações ilustram bem a necessidade de uma combinação de inteligências. Por exemplo, um cirurgião necessita da acuidade da inteligência espacial combinada com a destreza da cinestésica.

Assim, é na interação, ou seja, no diálogo entre as diversas “inteligências” que pode se estabelecer contradições. Como sabemos, é desse conflito de forças entre tese e antítese que surge a síntese. Assim, a síntese é a criação do movimento que supera a contradição.

Também em NCO03, o texto Criação e Caos nos mostrou que “Com base na semiótica de Charles Sanders Peirce, entendemos a criação como um processo que leva à geração de um signo”. Logo, a geração de novos signos e significados exige, fundamentalmente, que o diálogo seja estabelecido.

A criatividade pode aflorar em diversas condições. Alguns dizem que ela só aparece quando relaxamos e deixamos a cabeça aberta, sem pensamentos. Outros consideram que a necessidade e a tensão podem ser grandes fontes de criatividade. Dessa maneira, o surgimento de novas ideias está mais vinculado à espontaneidade e à liberdade que cada um se dá, sem autotolhimento e autocensuras.

Em um ambiente corporativo, certamente muitos profissionais possuem ideias novas, algumas bizarras, outras muito pertinentes, mas a expressão dessas ideias depende da característica da organização. Como ela recebe as novas ideias? Os pensamentos criativos são bem recebidos ou são rechaçados? Há espaço para a discussão ou espera-se a permissão do gestor para a colocação dos pensamentos dos profissionais?

É importante o estabelecimento de um ambiente que acolha as ideias de todos, com gestores que estimulem a proposição e a participação dos trabalhadores. Porém, se essa prática não for habitual, não se pode esperar resultados imediatos. Essa postura deve ser reafirmada por meio dos comportamentos e na forma de recepção das novas ideias.

Muitas vezes, a organização percebe a necessidade de realizar mudanças em sua gestão – de acordo com novas teorias administrativas, necessidade de manter-se competitiva ou, até mesmo, por modismo, porém estabelecem essas mudanças sem a real transformação em sua concepção e na forma de relacionamento com os funcionários. Para que as mudanças sejam efetivas e não temporárias, torna-se essencial a introjeção dessas mudanças pelos gestores. Sem isso, haverá um discurso de abertura ao debate e à formulação de ideias, sem uma prática condizente.

O texto nos diz que a inovação resultante de uma nova ideia – que pode alterar crenças, hábitos e interferir em interesses sedimentados – mesmo sendo algo que tenha sido considerado como positivo, gera conflitos. Apresentamos aqui um contraponto. O conflito é necessariamente algo negativo? Cremos que o homem é um ser conflitante e que este estado, muitas vezes, funciona como mola propulsora para o seu desenvolvimento e seu entorno. A questão é pensar alternativas para indivíduos e grupos lidarem com os conflitos. Estes podem ser ignorados ou sanados ou transformados num elemento auxiliar para o fluir da criatividade.

Gerenciar situações de conflito é essencial ao gestor, pois, das tensões, dos choques de diferentes interesses, nascem oportunidades de crescimento para todos os envolvidos. No entanto, o grande desafio é fazer crer que os conflitos são de ideias, pontos de vista e não de pessoas contra pessoas, pessoas contra organização e vice-versa.

Outro desafio é saber lidar com as constantes mudanças e incertezas da atualidade. Pois, como salienta SOUZA (2001) “a construção do novo pode envolver a destruição do velho. Daí o processo de inovação gerar sentimentos de entusiasmo e receio”. Porém, não há mais como fugir desses sentimentos contraditórios sem arriscar-se ao fracasso. Saber enfrentá-los requer ideias novas e um ambiente receptivo a inovação. Zimmerer e Scarborough (2005) definem a criatividade como a “habilidade de desenvolver novas ideias e descobrir novas formas de olhar para os problemas e oportunidades”. A pessoa criativa é capaz de manipular os conhecimentos e gerar ideias que posteriormente podem ser implementados.

Neste contexto, deve-se evitar os bloqueios mentais que muitas vezes são obstáculos à geração de ideias e oportunidades. Eles impedem pensar em situações e formas diferentes de se fazer às coisas. Segundo Roger Oech (1995) é preciso sair das armadilhas e dos padrões impostos pela rotina e começar a questionar e refletir sobre os mais variados problemas que estão ao nosso redor na tentativa de criar soluções alternativas. Segundo ele, há dez categorias de bloqueios mentais que inibem o pensamento criativo e dificultam a geração de idéias que podem impulsionar e mudar o status quo. Os bloqueios mentais são: 1) A busca pela resposta certa; 2) Não tem lógica; 3) Siga as normas; 4) Seja prático; 5) Evite ambigüidades; 6) É proibido Errar; 7) Brincar é falta de seriedade; 8) Isso não é da minha aérea; 9) Não seja bobo; 10) Eu não sou criativo.

A autora nós dá 12 recomendações para se adquirir condições organizacionais e individuais favoráveis à inovação. Discutindo sobre elas, chegamos à conclusão que a primeira e mais importante delas é “Favoreça e mantenha comunicações francas e autênticas” (p.115). Os conflitos serão construtivos, as ideias serão bem vindas, a transformação será bem vista se houver verdade no que está sendo dito. Portanto, a gestão inovadora é aquela que sinceramente aceita ideias, que estabelece conflitos cheios de verdade e franqueza entre todos os membros de um grupo e obtém como resultado criação, mudança e transformação: vida humana.


Referências

OECH, R. V. Um Toc na cuca: técnicas para quem quer ter mais criatividade na vida. 15 ed. São Paulo: Cultura, 1995. 153 p.

Pfützenreuter, Edson do Prado. Criação e Caos In: II Congresso Internacional Latino-Americano de Semiótica, 1996, São Paulo. Revista Face - Edição especial nº 4 - Caos e Ordem na Linguagem e na Arte. São Paulo: Programa de Estudos Pós Graduados em Comunicação e Semiótica, 1999. v.1. p.212 - 218

SOUZA, MARIA ROSÁRIA. In Gestão de projetos sociais. Coord. Célia M. de Ávila. 3ª ed., p. 104-115. Associação de Apoio ao Programa Capacitação Solidária, 2001

ZIMMERER, T.W. SCARBOROUGH, N. Essentials of entrepreneurship and small business management. Printice-Hall.New Delhi,2005.


[1] In: http://www.ead.unifei.edu.br/~teleduc/cursos/aplic/index.php?cod_curso=1983. Acessado em 16 dez. 2009.

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