Carta aberta à Profª Amanda Gurgel

Amanda, entendo bem tua surpresa com a repercussão do vídeo de 10/maio (cf.vídeo), afinal, o teu “discurso não trazia nada de novo.” (cf.entrevista) #legeduca


De fato, milhões de brasileiros
conhecem as situações que você descreveu. E não são apenas os professores que conhecem, são milhões de alunos, milhões de pais/familiares e milhões de funcionários da educação. Milhões de brasileiros conhecem os fatos.
Talvez por isso a repercussão, não pela informação, mas pela representação. Você falou em nome de milhões de brasileiros que se mantêm calados, e que talvez sintam vergonha de sua omissão.
Reproduzir e compartilhar teu vídeo pode ser
 uma forma de superar a vergonha que se sente “pela passividade em ouvir sem despejar meu verbo a tantas desculpas [...] a tantos floreios para justificar atos criminosos, a tanta relutância em [..] mudar o futuro.” (Rui Barbosa)

Somos um povo paciente, tolerante e flexível, mas chegamos ao limite. Não suportamos mais “os floreios para justificar atos criminosos” na educação das novas gerações. E você verbalizou isso:
qualquer colocação que seja feita aqui, qualquer consideração que seja feita aqui, é apenas para mascarar uma verdade que é uma verdade visível a todo mundo que é o fato de que em nenhum governo, em nenhum momento que nós tivemos no nosso Estado, na nossa cidade, no nosso país, a Educação foi uma prioridade, em nenhum momento.
A maneira mais usada nos últimos 100 anos para mascarar o descaso com a educação é focar as atenções no professor. E isso, infelizmente, só os milhões de professores conseguem perceber, sem conseguirem ser ouvidos.
A maioria dos “grandes estudiosos” que você citou está dedicada ao processo ensino-aprendizagem e seus trabalhos analisam aspectos relacionados ou ao aluno ou ao professor. Os estudos que tratam da inadequação do sistema educacional e da ineficiência e ineficácia do modelo de gestão pública da educação não interessam ao poder “público”.
Dá mais votos e menos trabalho canalizar as discussões em volta do professor. É conveniente colocá-lo como redentor da educação, pois assim se pode culpá-lo pelo fracasso escolar.
Nesse sentido, um comentário postado no Facebook resume bem a questão: “Deixar a responsabilidade nas costas dos professores é indicativo do quanto os governantes se preocupam em manter o ensino público de má qualidade." (cf. FB) 
Parece incrível, mas é o que se pode concluir. Falar durante quase um século sobre algo que não é a origem do problema indica que a intenção é de não resolver o problema. Pois é, a lógica das discussões sobre educação é ardilosa: coloca-se o professor como redentor, para poder condená-lo como algoz e impedir que a educação se resolva. E você desconstruiu essa fantasia.
Querendo ou não, tua fala desfez essa lógica. Retirando o professor do papel de redentor, você retira o eixo que sustenta a discussão sobre educação dentro de uma mesmice sem fim. Assim, você estabeleceu um vazio a ser preenchido: se o professor não é o centro nem do problema nem da solução, então, é preciso dar luz ao real fundamento da péssima educação pública.
É inegável que você tem “Propriedade maior até que os grandes estudiosos”, pois só quem tem propriedade de fato consegue fazer tudo isso em apenas 4 minutos de fala.
Só quem tem propriedade de fato é que tem autoridade para determinar diretrizes legítimas: “PAREM DE ASSOCIAR QUALIDADE DE EDUCAÇÃO COM PROFESSOR DENTRO DE SALA DE AULA” (Amanda)
Na realidade, a qualidade da educação depende hoje daquilo que antecede às questões da sala de aula, ou seja, a educação depende da lógica do sistema educacional, e Miguel Arroyo já indicou isso dez anos atrás (cf. artigo, p.46).
Essa lógica é orientada pelas políticas públicas, como política salarial e de carreira. Entretanto, é preciso repetir quantas vezes for necessário que “Curso de gestão para os diretores, equipamentos e curso de capacitação para professores não mudam a lógica obsoleta do modelo de gestão da educação pública. Há de se concordar que ‘Os investimentos e estudos deveriam ir para formatos novos’, mas seria ingênuo acreditar que a inovação no papel do professor (tutor) ou que a inovação nos serviços gerais da escola (Escola Charter) podem anteceder à inovação na lógica da educação.” (cf. artigo)
Amanda, a rapidez com que tua voz repercutiu mostra o quanto a sociedade está cansada de “floreios” e ansiosa por “objetividade”. Isso me estimulou a redigir um manifesto público online
A favor da Objetividade e da Desburocratização do Sistema Público de Educação Básica (http://www.peticaopublica.com.br/?pi=P2011N10111)

Parabenizá-la é pouco, preciso te agradecer pelo exemplo, afinal, educação se faz pelo exemplo. bjs

Valéria Farhat




Para assinar o manifesto online a favor da Objetividade e Desburocratização do SistemaPúblico de Educação Básica acesse http://www.peticaopublica.com.br/PeticaoVer.aspx?pi=P2011N10111




http://valeriafarhat.blogspot.com/  http://educacaoparafilosofia.blogspot.com.br/  http://objetividadeedesburocratizacao.blogspot.com.br/ http://filosofiaparaeducacao.blogspot.com.br/ http://cafelegumes.blogspot.com.br/ http://republicafederativadobrasil.blogspot.com.br/ http://www.legeducacional.com.br/  #educação #redessociais #socialmedia #inovação 

3 comentários:

  1. Hoje declaro que foi uma data memorável para mim.Tenho 55 anos, e há pelo menos 35 anos, esperava ouvir um discurso, simples, objetivo, com toda a propriedade que poderia existir, sobre um assunto tão importante para o desenvolvimento de uma Nação, a Educação e isto ocorreu na voz de uma professora que efusivamente, com simplicidade, sabedoria, objetividade e emoção mostrou aos nossos políticos a verdade nua e crua, o total abandono da educação e de seus abnegados mestres ao longo de quase duas décadas.Todos os dias costumo postar na rede do Facebook, pensamentos, frases e etc.. ligadas a educação, no intuito de tentar fazer alguma mudança na mente das pessoas, a maioria jovens, que se utilizam desta ferramenta de interação social, plantando sementes, para que talvez no futuro, haja alguma mudança.Hoje, mudarei minha tática, divulgarei, o mais que possível, a visualização deste depoimento em vídeo,para que todos a minha volta tenham conhecimento da real situação do ensino do País, na contra mão dos números matemáticos mirabolantes apresentados pela maioria dos governantes em todo o nosso País, que deveriam pelo menos ter um pouco de decência e tentar efetivamente mudar estas condições, para que nossos jovens de hoje pelo menos antevejam um futuro melhor.Parabéns professoras e professores, vocês são heróis.Fica aqui a mensagem deixada por nosso saudoso Herbert José de Souza, o Betinho :-Um país não muda pela sua economia, sua política e nem mesmo por sua ciência; muda sim pela sua cultura.

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  2. Parabéns pelas palavras Oiregor18. Expôs com clareza e magnífica lucidez o sentimento que nos envolve desde o depoimento da Prof. Amandca.

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  3. Sou professora aposentada e há muito não via uma declaração tão clara ...tão objetiva...tão sincera...
    Amanda, vc me fez reembrar meus tempo de professora, o qto lutamos para que nós professores fossemos ouvidos...mas infelizmente isso não aocnteceu..
    Vc está de parabéns pela clareza, sinceridade e principalmente pela repercussão tão rápida...isso significa que os professores do Brasil inteiro estão carentes de uma voz tão sincera como a sua...
    Deus permita que a partir de agora as autoridades tomem conciência do que precisa ser feito.
    Maria Amélia

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