Internet e Integração Global

A internet é uma ferramenta. Como tal, ela não faz nem fará nada visando um objetivo. Uma ferramenta apenas existe. As conseqüências de seu uso não dependem dela, mas da intenção de quem a usa.
Falar da integração dos povos é falar da
globalização. Então, a questão que se coloca é se a internet será usada para construir uma globalização humana. Assim sendo, começo por estabelecer a noção de globalização apresentada por Milton Santos.
Milton Santos foi um intelectual brasileiro, e talvez o único, reconhecido internacionalmente como pensador, um filósofo contemporâneo brasileiro de renome global. “Suas idéias de globalização, esboçadas antes que este conceito ganhasse o mundo, advertia para a possibilidade de gerar o fim da cultura, da produção original do conhecimento - conceitos depois desenvolvidos por outros. Por uma Outra Globalização, livro escrito por Milton Santos dois anos antes de morrer, é referência hoje em cursos de graduação e pós-graduação em universidades brasileiras. Traz uma abordagem crítica sobre o processo perverso de globalização atual na lógica do capital, apresentado como um pensamento único. Na visão dele, esse processo, da forma como está configurado, transforma o consumo em ideologia de vida, fazendo de cidadãos meros consumidores, massifica e padroniza a cultura e concentra a riqueza nas mãos de poucos.” (http://pt.wikipedia.org/wiki/Milton_Santos) Assim, valho-me do seu pensamento (http://www.youtube.com/watch?v=ZXdDkDwTUxc&feature=related) para a análise que se segue.
Esta concentração de riqueza e desenvolvimento pode ser vista na foto de satélite que mostra a quantidade de luz emitidas pelas cidades do mundo. A internet será usada para integrar a luz e a escuridão?



Segundo Milton Santos, há três mundos em um só. O primeiro deles é o mundo da globalização como fábula, o mundo tal qual nos fazem vê-lo. Trata-se de uma globalização cuja “intenção” é o bem-comum. Comungam desta visão, as vertentes otimistas acerca dos efeitos da internet na integração dos povos. Assim, classifico-as com “fábulas” deste primeiro mundo descrito pelo filósofo, pois não encontra sustentação na realidade. Logo, não é uma tese plausível.

O mundo número dois é o mundo tal qual ele é, a globalização como perversidade. . Este mundo comprova a vertente que vê com pessimismo o uso da tecnologia, pois a realidade mostra a intenção das pessoas que tem poder de comando no mundo. A julgar pela realidade do mundo, a intenção do homem só pode ser, como foi dito no preâmbulo da questão, o uso da internet “como mais um instrumento de dominação e controle, a nova ferramenta que garantiria a permanência dos grupos econômicos que historicamente se mantém no poder.” Assim, a vertente pessimista defende uma tese mais que plausível, uma tese real. Entretanto, trata-se de uma realidade insustentável que, de algum modo não se sustentará. Como tudo que é radical, esta realidade não conseguirá se sustentar. Quer pela extinção em massa dos dominados, quer pela reversão das relações sociais, quer por maneiras que sequer condigo vislumbrar.
O fato é que considero as duas vertentes não plausíveis. Nem a teoria dos otimistas, nem a realidade dos pessimistas, pois ambas são insustentáveis. Assim como Milton Santos, acredito que só o mundo número três é um mundo sustentável. E um mundo sustentável requer um outro uso da tecnologia, "uma outra globalização".

“Nunca na história da humanidade houve condições técnicas e científicas tão adequadas a construir o mundo da dignidade humana. Apenas essas condições foram expropriadas por um punhado de empresas que decidiram construir um mundo perverso. Cabe a nós fazer destas condições materiais a condição material da produção de uma outra política.”
Política vem do grego e sua morfologia diz tudo sobre a questão: polis (cidade) + tés (membro) + iço (aquilo que é concernente a). Assim, política é aquilo que diz respeito a vida do homem em sociedade, uma vida que é a vida de todos e a de cada um.
Cabe a cada um de nós fazer da tecnologia, e de toda farta condição material disponível no mundo, um mundo integrado, ou seja, harmônico e equilibrado, um “mundo da dignidade humana”.
Portanto, a internet é apenas uma possibilidade de futuro e só o futuro dirá se fomos capazes de usar a internet para construir o mundo da dignidade humana ou para manter o mundo da dominação corporativa.

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