Liderança: esperando a ressurreição do homem

Liderança é a característica própria do líder, e no dicionário Houaiss verifica-se que líder é: 1. indivíduo que tem autoridade para comandar ou coordenar outros; 1.1. pessoa cujas ações e palavras exercem influência sobre o pensamento e comportamento de outras. Assim, tem-se o entendimento inicial de que liderança é a influência que uma pessoa tem sobre outra a ponto desta pensar e comportar-se pautada naquela. Isso parece ser uma explicação bastante clara do que seja liderança.
Entretanto, há milhares de publicações, palestras e eventos abordando o tema. Por quê?
Parece que a questão não é identificar o que seja liderança, mas identificar elementos que expliquem ou “ensinem” como se consegue ter essa influência sobre os outros. Em outras palavras, o que se vê são, no fundo, levantamentos analíticos das características e comportamentos de líder.
Desse modo, os aspectos importantes da liderança giram em torno do comportamento do líder. Os discursos sobre liderança, tanto nos textos disponibilizados nessa disciplina quanto nos best-sellers das livrarias, procuram analisar motes ou expressões do comportamento de líder. Esses são os aspectos importantes que se vê nas abordagens sobre liderança: os elementos comportamentais do líder, quer pela via da causa (personalidade, temperamento,caráter), quer pela via da conseqüência (influências).
A lista desses elementos é enorme, e inclui termos como empreendedorismo, visão, carisma, empatia, superação, comprometimento, aprendiz, personalidade, capacidade de motivar, criatividade, dinamismo, talento, estrategista, desempenho, político, capacidade de agregar, humildade, eficaz, ouvinte, inspirador, encorajador, paixão, confiabilidade, assumir responsabilidades, humor, honestidade, e respeito.
Diante disso, uma abordagem sobre cada um desses aspectos é tarefa que excede a dimensão de um exercício. Por isso, opta-se por falar aqui sobre um viés comum a eles. O tamanho dessa lista de aspectos da liderança pode justificar que "As organizações vivem uma crise de liderança”[1]. Assim, é possível refletir sobre as razões pelas quais essa lista de características humanas tornou-se incomum.
Essas características juntas indicam mais que multiplicidade, indicam a adequação do líder à ambigüidade, ao imprevisto, à confusão. Admitindo-se que “Líderes amam a confusão”[2], que organizações trabalham no sentido inverso e que a educação pauta-se pela demanda das organizações, então, a educação desestimula a confusão. Assim, é possível entender que a crise de liderança é, no fundo, conseqüência de uma escolha deliberada por uma educação positivista e tecnicista.
Segundo Ken Robinson[3], o modelo educacional atual ainda é o mesmo que foi desenvolvido com o objetivo de “formar” os operários requeridos pelo advento da Revolução Industrial. As instituições de ensino “formam”, põe na forma, e isso não parece muito adequado ao desenvolvimento dos aspectos de personalidade, caráter e temperamento que se identifica num líder.
Talvez se possa perguntar se as escolas estão matando os líderes. Nesse caso, não se deveria deixar a “formação” conteudista de lado e investir no desenvolvimento humano?
“Sempre haverá duas dinâmicas em jogo - a tarefa e o relacionamento.”, segundo James Hunter. Então, não seria oportuno focar a educação na dinâmica relacional da vida humana e não mais na dinâmica mecanicista da indústria?
Essa parece ser uma reflexão muito construtiva acerca da liderança e seus aspectos. Refletir sobre a educação como espaço de prática das relações humanas sociais e não profissionais. A educação profissionalizante mostra-se no caminho inverso das necessidades do mundo atual. E essa demanda não é apenas das organizações empresariais, mas das organizações políticas e sociais também.
A vida contemporânea apresenta crise econômica, política, ética e, fundamentalmente, educacional. Ninguém duvida do conhecimento técnico das “Eron”, dos “Daniel Dantas”, das “American Home Mortgage (AHM)”, das “Chrysler” e dos “George Bush”. Só há profissionais, de sucesso ou fracasso. Onde estão os homens?. Onde estão os líderes?
Parece sensato pensar que a ressurreição do líder depende da ressurreição do homem. Portanto, tratar dos aspectos da liderança implica repensar a educação e providenciar, com urgência, a substituição da “escola” por espaços de desenvolvimento humano, onde confusão, criatividade, imprevisto sejam caldo de cultura para formação de homens com a vasta lista de características apontadas acima. É a partir desse homem se poderá ver brotar a liderança.
[1] CORTELLA, Mario S. apud LACERDA, Daniela. A vez dos líderes anônimos. [s.d.t]. p. 1
[2] PETERS, Tom. 50 Lições de Liderança. [s.d.t.]. p. 2
[3] ROBINSON, Ken. Escolas matam a criatividade?. Diponível em: http://www.youtube.com/watch?v=yFi1mKnvs2w. Acesso em: 30/08/2009.

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