Educação: o golpe da pirâmide está solto, proteja-se!

Para quem não lembra ou não conhece, "A ideia básica por trás do golpe é que o indivíduo faz um único pagamento, mas recebe a promessa de que, de alguma forma, irá receber benefícios exponenciais de outras pessoas como recompensa. Um exemplo comum pode ser a oferta de que, por uma comissão, a vítima poderá fazer a mesma oferta à outras pessoas. Cada venda inclui uma comissão para o vendedor original.

Claramente, a falha fundamental é que não há benefício final; o dinheiro simplesmente percorre a cadeia, e somente o idealizador do golpe (ou, na melhor das hipóteses, umas poucas pessoas) ganham trapaceando seus seguidores. Efetivamente, as pessoas na pior situação são aquelas da base da pirâmide: aquelas que assinaram o plano, mas não são capazes de recrutar quaisquer outros seguidores." (wikipedia)

Quando o assunto é dinheiro, muitos percebem que isso é insustentável e não entram nesse jogo. 

E se o governo tiver uma lei obrigando todo cidadão a participar da pirâmide?

Impossível?

Em parte. Se o governo quisesse fazer uma lei obrigando o cidadão a colocar dinheiro na pirâmide com a promessa de devolver o dinheiro valorizado, provavelmente haveria uma revolução. Afinal, ninguém que jogar dinheiro fora.

E se ao invés de dinheiro o governo faz uma lei obrigando o cidadão a colocar seus crianças despreparadas na pirâmide com a promessa de devolver pessoas preparadas?

Bem, nesse caso não se trata de uma hipótese. Isso é fato. A lei obriga que os pais matriculem seus filhos na escola, e escola é só a base da pirâmide.

A sociedade não enxerga isso, mas é exatamente assim.

O poder público, empresários e a mídia, só falam de professor e alunos, nunca da pirâmide. Não lhes interessa acabar com o jogo. Por isso dão tanto destaque aos economistas que pesquisam educação. Podem até ter boas intensões, mas as habilidades dos economistas acabam sendo usadas para manter o jogo da pirâmide.Economistas se interessam por números e os números aparecem na escola.  E quais os elementos mais interessantes na escola para investigar? Alunos e professores, e dá-lhe números dissecando a vida dos dois.

A celebridade da vez é o economista Gustavo Iochepe, que até na Globo já foi parar. É um menino formado em universidades renomadas e deve ter um bom preparo teórico. Tem várias pesquisas com números interessantes sobre a escola. E como escola é a única parte da pirâmide que querem que sociedade discuta,  dá-lhe pesquisa de Gustavo Iochepe para o povo. Nas organizações Globo, no site do Todos pela Educação, nas publicações da Editora Abril, enfim, divulgação em massa somente sobre professores e alunos (e seus pais, claro).

Querem a sociedade preocupada em analisar apenas as deficiências de alunos e professores. Não querem as pessoas reclamando do jogo da pirâmide. Enquanto "vendem em massa" a visão do jovem economista, a visão de antigos profissionais de humanas não ganham holofote da grande imprensa. Isso causa estranheza até nas pessoas mais ingênuas, não?

Eu poderia expor aqui inúmeras análises de profissionais de humanas ligados à educação há décadas e que enxergam na educação muitas coisas além daquilo que os economistas enxergam. Só que isto não é um livro.

Limito-me a reproduzir aqui meia dúzia de linhas do recente artigo de Eduardo Chaves (23/11). É interessante observar que Chaves e Iochepe têm coisas em comum: boa formação, consultoria para empresas importantes, e ambos são renomados. E também têm diferenças: o economista pesquisa números da educação e o humanista analisa a lógica da educação; o jovem economista (35 de vida) tem alguns anos de pesquisa sobre educação e o velho humanista (com todo respeito, Eduardo) tem décadas de vivência em educação (46 anos de trabalho); a visão do economista é divulgada em massa e a visão do humanista não é divulgada em massa.

Bem, a imprensa já se incumbe de te deixar cego com a visão dos economistas, atualmente a do menino Iochepe, e agora você pode conhecer a visão que o velho humanista tem. O artigo do Eduardo Chaves é sobre "Mobilidade, Redes Sociais e Escola", e ele o faz, diferentemente da visão limitada dos economistas, olhando para a pirâmide toda. Por isso, é pertinente trazer aqui o trecho sobre a pirâmide:

"A escola está virando uma prisão com uma “sentença de doze anos” (título de um livro sobre a escola: The Twelve-Year Sentence) [...]

Felizmente ninguém ainda inventou a moda de que, porque se admite hoje que a educação dura a vida inteira, a gente deva passar a vida inteira na escola… [...]

Se desconsiderarmos o Exército e a Igreja Católica, a escola (em especial a pública) talvez seja a estrutura organizacional mais hierárquica, numa forma piramidal, que temos no Brasil (quiçá no mundo): um ministro da Educação lá em cima; vinte e sete secretários estaduais da educação, um em cada unidade da Federação; diretores regionais (quase uma centena no Estado de São Paulo); diretores de escolas; professores. Paralelamente à cadeia de comando, propriamente dito, há órgãos ou pessoas com funções normativas ou de assessoria: um Conselho Nacional da Educação, vinte e sete Conselhos Estaduais da Educação, Conselhos Municipais da Educação (nem todos os municípios), e, dentro da escola, Coordenação Pedagógica (às vezes ramificada em várias).

Na sala de aula, o professor é a autoridade maior. Ali naquele pedaço do sistema ele manda."

Essa descrição da pirâmide para no nível dos Estados, mas ainda tem a multiplicação dessa estrutura dentro de cada cidade, nas Secretarias de Educação municipais.

O professor está lá, na base da pirâmide mandando que os alunos obedeçam as ordens que o topo da pirâmide determinou através de leis, resoluções, comunicados escritos, apostilas e orientações verbais (que são a coisa mais nociva, pois não se pode provar o que elas contêm).

E não adianta vir com o velho papo de que deveriam se recusar a obedecer. Você desobedece o ladrão quando tua vida está em jogo? Você desobedece as regras da empresa quando teu emprego está em jogo? Você desobedece a lei quando tua liberdade está em jogo? Bem, então vamos por os pés no chão e falar como adultos. As escolas funcionam conforme o topo da pirâmide quer que funcione. E quem está na base, professor e aluno, que se dane. É só mandar a imprensa mostrar os pontos negativos de cada um dos dois e deixar a sociedade acreditar que eles é que são o problema.

Pois é, e os economistas pensam que educação é só a sala de aula. Aí, só fazem as pesquisam sobre professor e o aluno (agregando os pais).

As pessoas são levadas a discutir, conversar, analisar e culpar apenas em torno da base da pirâmide (que são os alunos, professores e pais) pelo caos da educação. Assim, todos acreditam que já sabem onde está o problema: alunos e professores. Com isso, as pessoas ficam focadas nas peças do jogo e não analisam a lógica do jogo.

E é isso que interessa aos que comandam a lógica da pirâmide: pessoas seguidores. Precisam que todo cidadão seja adepto à educação sem perceber que é o jogo da pirâmide. Quem comanda o jogo gosta de ver as pessoas reclamando dos jogadores, mas têm pavor que a lógica do jogo da pirâmide seja descoberta.

Isso tudo não é novidade para pessoas que trabalham na educação, mas é complexo para quem está fora. E é facilmente compreensível, pois só divulgam e discutem coisas a respeito de alunos e professores para criar a ilusão de que educação é só a escola.

Escola é só o espaço onde o jogo é jogado. Educação inclui mais coisas:  leis, especialistas, dirigentes e cartolas, que são os que comandam e lucram com a não-educação. E tudo isso com apoio da imprensa, como no futebol. Essa é parte da pirâmide que está blindada graças à cegueira da sociedade.

Proteja-se!!!

Teu dinheiro está sendo posto no jogo da pirâmide e você não percebe porque fica lendo e conversando  sobre alunos e professores. Isso provoca cegueira.

100% dos brasileiros coloca dinheiro e 95% coloca os filhos nesse jogo. E o resultado você conhece: os pobres não conseguem trabalho digno, os ricos não conseguem empregados capacitados, e ninguém consegue escapar da violência. Nem em casa, nem na rua e, agora, nem na escola.

Proteja-se!!!

Pare de ler e conversar sobre alunos e professores. O problema é a pirâmide: "a falha fundamental é que não há benefício final" para quem está na base, a escola.


http://valeriafarhat.blogspot.com/  http://educacaoparafilosofia.blogspot.com.br/  http://objetividadeedesburocratizacao.blogspot.com.br/ http://filosofiaparaeducacao.blogspot.com.br/ http://cafelegumes.blogspot.com.br/ http://republicafederativadobrasil.blogspot.com.br/ http://www.legeducacional.com.br/  #educação #redessociais #socialmedia #inovação 

4 comentários:

  1. Muito bom! Parabéns pelo artigo! A "única" salvação talvez seja as iniciativas individuais tipo as escolas com o método Waldorf e outras tantas. Esperar uma solução a nível do poder "público", mesmo com debates ou embates é no mínimo ingênuo.

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    1. Verdade, Ronald, a única saída necessária é os burocratas saírem dessa história. Caso contrário, a história chegou ao fim! ;)

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  2. Olá Valéira,

    Parabéns pela excelente reflexão!

    Nossa sociedade não precisa nem de ´´líderes´´ e nem de ´´seguidores´´, pois ambos legaram para a sociedade a falácia na qual estamos todos envolvidos! ´´líderes´´ e ´´seguidores´´ são conceitos falidos, não funcionam mais!

    O momento é dos PROTAGONISTAS, que como você estão indicando a ´´cabeça da medusa´´ dessa falácia!

    ´´Não permitam que façam com você e com seus ascendentes, o que fizeram durante milhões de anos com os seus antecedentes´´.Erpmes Arap Sogima

    Sua News está impecável, objetiva, direta e efetivamente auxilando, como uma verdadeira PROTAGONISTA, com que nossa sociedade atravesse mais rapidamente do estágio da sociedade coadjuvante para a sociedade PROTAGONISTA!

    5o SEtoR-Academia da Arte do Trabalho
    Tecnologia Social
    Liderança Holográfica e a Gestão em Células
    Presidente
    Operador Público, Privado e da Sociedade Civil

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  3. Mas o topo da pirâmide tem sido criticado e condenado. No caso, o MEC tem sido apontado como a fonte primária dos problemas da educação no país. Naturalmente que os professores não podem se insubordinar contra o MEC, como disse o articulista, mas podem sim criticá-lo, aliás, os professores tem a obrigação moral de criticar uma política educacional voltada para a superstição, a desigualdade no tratamento de grupos sociais, a ideologização do saber e a ocultação da verdade. Com o perdão da limitação da minha metáfora, não se pode preparar alunos para saírem para a rua e culparem a meteorologia pela chuva que os molhou. Deveriam ser preparados para a previdência, para a autocrítica de que o erro é nosso, de que temos de mudar e não querer que mude aquilo que não controlamos muito bem.

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